Vi-te hoje
(não deixei que me visses, escondi-me).
Ver-te foi como revisitar um velho e abandonado parque de diversões.
A roda gigante a ranger com artrite e neons manquitolas,
Os carrinhos de trombada com seguros e IPVAs vencidos,
A galeria de tiro de espingarda de rolhas...
Vi-te hoje
(não deixei que me visses, fiz-te um favor).
Ver-me
Seria ver meu cadáver,
Que ainda não pode se deitar,
Entregar-se à doce decomposição e ao aconchegante esquecimento.
Poupei-te da decepção
(e a mim, de vê-la em seus olhos)
E da destruição da tua boa memória de mim.
Poupei-te do constrangimento
De teres de sorrir a um estranho
Da maneira que sorrias para mim
(até com tuas orelhas tu sorris).