Ele
Não entregou a Ela
Seus beijos
(ora apaixonados, ora cerimonais),
Seu sono ao lado do Dela
(ora plácido, ora tempestuoso),
Sua rotina e suas manias
(intragáveis, no mais das vezes),
Seu pau
(cuja ereção oscilava com os desmandos da maré, o humor dos ventos, a TPM da Lua).
Entregou a Ela
Então
Post mortem :
O seu baú
Urna depositária da alma Dele,
Seus escritos e suas confissões
(que editor nenhum publicaria, que padre algum absolveria)
Em magotes de folhas amareladas
Em cadernos e agendas
De espirais tortas e enferrujadas.
Transplantou para o peito Dela
(ainda arfante e túrgido)
O testamento sem nenhum beneficiário,
Implantou no útero Dela
(ainda quente, fértil e sequioso)
O embrião dos sonhos Dele
De suas aspirações
Frustrações
Enfim
O embrião do adulto
Que Ele sempre quis ser
Mas
Que optou
(E Ele nem se lembra
Quando
Como
E por quê)
Por abortar.
(Edite-os
Misture-os
À vontade