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Channel: A Marreta do Azarão
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Um Pouco de Beleza, Para Variar (7)

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Feito um seminarista que cumpre com todos os seus créditos acadêmicos, gradua-se em Teologia e Filosofia e, na hora de ser ordenado em padre, desiste de seus votos, declinando assim da batina e do sacerdócio, sim, eu também cursei o Catecismo, mas não tirei meu diploma, não fiz a 1ª Comunhão.
Lembro-me do pequeno livrinho de catecismo. Monocromático, letras e ilustrações (bem toscas, inclusive) impressas em azul.
 
Cursei o catecismo porque minha irmã, um primo e dois vizinhos - todos nós a regular idades próximas - começaram a frequentar as aulas dominicais. E também porque gosto de escutar estórias a la Carochinha.
 
Enfadonhas e pouco imaginativas, as estórias do livrinho do catecismo. Perdiam de longe para as fábulas e contos infantis que eu lia, por exemplo, em Monteiro Lobato e na coleção O Mundo da Criança.

 
Passado o Carnaval e ainda a tardar a Páscoa, estamos, pois, no período chamado de Quaresma, que compreende 40 dias. Pelo que me lembro do catecismo, a palavra Quaresma em si tem esse significado, quarenta dias. Dias que são alusivos aos quarenta dias que Cristo passou no deserto, a jejuar e a prosear com Satanás.
 
Ateu que sou, cago e ando para a Quaresma ou qualquer outro simbolismo católico-cristão.
Porém, há algo que eu muito aprecio durante o período da Quaresma, algo pelo qual chego a me babar de gosto : a quaresmeira. Nome popular da espécie Tibouchina granulosa. A relação deve-se, primeiro, ao intenso roxo de suas flores, o mesmo roxo dos panos que cobrem os santos durante esse período, e, segundo, por ela florescer mais intensamente (ainda que não exclusivamente) nesta época do ano. 
Já tem umas duas semanas que, à caminho do trabalho, tenho sido brindado pela belíssima visão abaixo. A foto, acredite, não faz jus aos seus roxos, muito mais profundos do que a lente e a inabilidade deste que vos fala foram capazes de capturar.

 
Esta formosura está plantada numa calçada em frente ao Bar do Renato, último remanescente dos botecos das antigas e dos cervejeiros das antigas aqui do bairro. No Bar do Renato, não tem nem cardápio, você pergunta e o garçon responde na hora, nunca tem mais que duas opções de petiscos no mesmo dia. O Bar do Renato só serve Antarctica, Brahma e Skol. Se o cara se sentar lá e pedir uma Heineken, já é olhado com desconfiança, já fica malfalado. 
 
O Bar do Renato abre às 9 da manhã e, via de regra, já tem uns dois ou três esperando e reclamando do atraso. É o ponto de encontro de todos os aposentados beberrões do bairro. Não é à toa que, à boca pequena, o Bar do Renato é também chamado pelos moradores do bairro de o Bar do Pinto Murcho.
E além desse ambiente salutar e familiar, o Bar do Renato também nos proporciona esta obra-prima da natureza, este quadro vivo.

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