Quantcast
Channel: A Marreta do Azarão
Viewing all articles
Browse latest Browse all 2844

Fac-Símile

$
0
0
Ao falso poeta, 
A falsa cerveja, 
Água placentária de gravidez psicológica. 
O fosco ao falso poeta, 
A tristeza e o baço próprios das cópias. Ao falso poeta, 
O sono burocrático 
De 10 da noite às 6 da manhã. 
Do falso poeta 
Escondam a insone madrugada prolífera. 
Por detrás de arame farpado eletrificado, 
De pit bulls de três cabeças 
E de festas onde dançam agarrados 
A percepção distorcida e o hálito de névoa. 
Ao falso poeta, nada de madrugadas e festas, 
Que não há inferno suficiente à sua traição.
 
Ao falso poeta, 
Eletrochoques nas têmporas, 
Subtraiam dele seu consolo, 
As lembranças de quando ainda uivava, caçava 
E ceava pescoços rompidos ao plenilúnio. 
Extraiam sem remorso as memórias do falso poeta, 
Que nunca foram dele de direito.

Ao falso poeta, 
O vandalismo, 
A depredação da sua coleção 
De fósseis em âmbar de todos os seus primeiros beijos. 
Napalm à sua galeria de porres infecundos, 
Gás mostarda a dedetizar seus arquivos de poemas inacabados, 
Agente laranja a esterilizar seus biotérios de versos natimortos. 
Devassem os estimados acervos do falso poeta, 
Vaporizem a tudo, 
Sem remordimentos. 
Que o colecionador é o mais desprezível dos seres.

Amputem, 
Extirpem a bisturi cego 
(sem raque, peridural, xilocaína ou whisky) 
As asas dos tornozelos do falso poeta. 
Dos tornozelos, sim. 
Que as das espáduas, ele próprio mutilou, 
Em barganha a uma musa peituda, 
A troco de seus risíveis talentos de falso poeta. 
Deixem terreno e descalço o falso poeta, 
Deixem sem reino e sem calço o falso poeta. 
Tornem-no pesado, desolado, desalado... 
Incapaz de deslizar célere e incólume 
Pelas ruas, pela noite, 
Através dos sonhos e decepções que provocou. 

E nada! 
Absoluta e sumariamente nada!!! 
Nada de sexo e vodka para o falso poeta. 
Que sexo e vodka 
São as únicas verdades desse mundo miserável.

Viewing all articles
Browse latest Browse all 2844