Ao falso poeta,
A falsa cerveja,
Água placentária de gravidez psicológica.
O fosco ao falso poeta,
A tristeza e o baço próprios das cópias. Ao falso poeta,
O sono burocrático
De 10 da noite às 6 da manhã.
Do falso poeta
Escondam a insone madrugada prolífera.
Por detrás de arame farpado eletrificado,
De pit bulls de três cabeças
E de festas onde dançam agarrados
A percepção distorcida e o hálito de névoa.
Ao falso poeta, nada de madrugadas e festas,
Que não há inferno suficiente à sua traição.
Ao falso poeta,
Eletrochoques nas têmporas,
Subtraiam dele seu consolo,
As lembranças de quando ainda uivava, caçava
E ceava pescoços rompidos ao plenilúnio.
Extraiam sem remorso as memórias do falso poeta,
Que nunca foram dele de direito.
Ao falso poeta,
Ao falso poeta,
O vandalismo,
A depredação da sua coleção
De fósseis em âmbar de todos os seus primeiros beijos.
Napalm à sua galeria de porres infecundos,
Gás mostarda a dedetizar seus arquivos de poemas inacabados,
Agente laranja a esterilizar seus biotérios de versos natimortos.
Devassem os estimados acervos do falso poeta,
Vaporizem a tudo,
Sem remordimentos.
Que o colecionador é o mais desprezível dos seres.
Amputem,
Amputem,
Extirpem a bisturi cego
(sem raque, peridural, xilocaína ou whisky)
As asas dos tornozelos do falso poeta.
Dos tornozelos, sim.
Que as das espáduas, ele próprio mutilou,
Em barganha a uma musa peituda,
A troco de seus risíveis talentos de falso poeta.
Deixem terreno e descalço o falso poeta,
Deixem sem reino e sem calço o falso poeta.
Tornem-no pesado, desolado, desalado...
Incapaz de deslizar célere e incólume
Pelas ruas, pela noite,
Através dos sonhos e decepções que provocou.
E nada!
Absoluta e sumariamente nada!!!
Nada de sexo e vodka para o falso poeta.
Que sexo e vodka
São as únicas verdades desse mundo miserável.