Imagine as coisas que eu escreveria
Se realmente penasse
As agruras que digo que sinto.
Imagine os horrores descritos
Se em verdade sangrasse
As feridas que em mim maquio.
Imagine as barbaridades que de minha pena estuporariam
Caso, de fato, me acercassem
Todas as desgraças e azares que invento.
Imagine as temeridades que abortariam de minha esferográfica
Se a cólica de rins tão alardeada
Não fosse, enfim, somente unha podre e encravada.
Imagine as atrocidades que minha caneta cometeria
Se o que eu sofro não fosse somente o que eu minto
Se em vez dessa pálida vodka de mercearia
Eu dispusesse da verde aurora boreal do absinto.