Na certa, os leitores bebuns do Marreta já perceberam meu arrefecimento de ânimos em seguir com minha messiânica jornada em busca das cervejas boas e baratas, uma procrastinação de minha parte em prosseguir pelo místico caminho de Santiago rumo ao Santo Graal do bêbados desvalidos de bolso, dos quais será o reino dos Céus.
Em minha fraca e inconsistente defesa, devo dizer que esse desânimo não se restringe ao garimpar das boas e baratas. Ele tem se estendido a todas as outras atividades que um dia já me deram prazer. Pego um livro e não me concentro nele por mais de duas ou três páginas. Vou assistir a um filme e, logo, estou em estado de catatonia frente à TV. Penso em caminhar, mas só penso.
Tenho, há tempos, dado conta e me ocupado apenas da parte "chata" da vida, da rotina necessária à sobrevivência, de atividades que podem ser feitas em piloto automático. Limpar a casa, ir ao mercado, fazer a comida, cuidar das gatas, pôr o lixo pra fora e, desgraçadamente, continuar a me arrastar para o "trabalho", para o inferno em que eu me meti.
Uma vida em stand by.
Tanto que, nos últimos tempos, tenho pensado muito em me consultar com um psiquiatra, ver lá se ele me receita uns remédios que me deem alegria; um comprimidinho que me permita suportar o tempo que preciso passar acordado e um outro que me permita um melhor repouso no tempo destinado ao sono. Mas tais são os meus abatimento e prostração que também só penso em marcar uma consulta, só penso.
Porém, ninguém consegue se safar de seu destino, de seu fado, de sua sina. Ninguém consegue escapar ao fardo (de cerveja) que lhe foi predestinado.
O Universo sempre arruma o seu jeito de reestabelecer o equilíbrio cósmico e cármico.
Se o Azarão não vai às boas e baratas, as boas e baratas vêm ao Azarão.
Na sexta-feira passada, esposa e filho, também em férias, foram passar uns dias num sítio de uma amiga dela em Cássia dos Coqueiros (SP), uma cidadezinha de uns três mil habitantes a uns 80 km daqui. Geralmente, quando vamos passar um ou dois dias por lá, chegar na sexta à tarde e voltar pelo domingo de manhã, eu os acompanho, também vou junto. Mas não desta vez, que foram na sexta para só voltar na outra terça-feira.
Temos duas gatas, duas irmãs já com quase 15 anos de idade, duas pequenas senhorinhas. Uma delas, a Cleonice, de uns três anos para cá, desenvolveu uma infecção intestinal crônica. Não é causada nem por vírus nem por bactéria nem por nada que possa ser morto ou eliminado. É algo do organismo dela, uma coisa meio autoimune, coisa de velho, enfim.
Não há cura, há controle. Ela só pode comer um tipo de ração chamada hipoalergênica (cara pra caralho) e, todos os dias, tem que tomar 0,5 ml de um corticoide, a prednisona, administrado por mim com uma pequena seringa. Sob miados de protesto, eu a enrolo numa toalha, forço que ela abra a boca e, rapidamente, esguicho-lhe o remédio goela abaixo.
Se ela ficar até um dia, dois com muita sorte, sem a medicação, não ocorrem maiores danos. Porém, excedida essa margem de relativa segurança, ela começa a ter crises de vômito e diarreia e, facilmente, evolui para um preocupante quadro de desidratação.
Desta forma, não embarquei com eles para o sítio, fiquei para cuidar da menina Cleonice. Além disso, a sogra também foi. Ou seja, tudo conjurou para que eu ficasse em casa.
Então, na segunda-feira, véspera deles voltarem, recebi uma mensagem da minha esposa contando que eles tinham ido à cidade para se reabastecerem de víveres e de cerveja e que minha sogra, mão fechada feito eu, havia comprado, para experimentar, meia dúzia de uma marca de cerveja nunca dantes entornada. Aretzbeer. R$ 1,89 a lata de 350 ml, já gelada. Minha esposa disse não ter gostado, mas a sogra queria até voltar pra buscar mais.
Pedi-lhe, então, que me trouxesse duas ou três latinhas dessa maravilha, para tê-la em meus arquivos. O pedido saiu melhor que a encomenda. Trouxe-me uma dúzia. Um fardo. Ei-la já deitada em meu poderoso canecão. Pronta para o abate.
Aretzbeer. Receita alemã. Produzida no Paraná, pela Industrial Norte Paranaense de Bebidas. Claro que não é nenhuma puro malte, mas é melhor que muitas outras marcas comerciais famosinhas. Não fica devendo nada para a Skol, Antarctica, Sub Zero, Itaipava (inclusive a sua fraquíssima versão 100% malte), Kaiser etc.
O site Brejas deu-lhe nota 2,7 (de um máximo de cinco) na sua avaliação geral, que é uma média das notas conferidas ao aroma, aparência, sabor, sensação e conjunto. O mesmo site, a exemplos, deu nota 1,5 para a Skol "normal" (2,4 para a Skol puro malte), 1,8 para a Antarctica Boa (2,2 para a Original), 2,6 para a Amstel e 2,2 para a Budweiser.
Só me incomodou um pouco um gostinho que aparece lá no final, um sabor residual meio adocicado. Mas nada que não possa ser compensado e equilibrado fazendo com que a Aretzbeer se faça acompanhar de um tira-gosto de jiló acebolado. Além do quê, todo mundo sabe que depois da segunda ou terceira lata, tudo quanto é gosto residual desaparece.
Aretzbeer. Mais uma a receber o selo ISO-Azarão das boas e baratas. Nesse caso, melhor ainda, das boas e de graça, uma vez que foi minha esposa quem desembolsou por elas.
Pããããããta que o pariu!!!!