Quantcast
Channel: A Marreta do Azarão
Viewing all articles
Browse latest Browse all 2844

Uma Ode à Pretinha

$
0
0
Vendo-te assim
Ainda tão ágil
E serelepe
A andares aristogata pela casa,
A saltares sobre o sofá,
Sobre a mesa quando estou a escrever,
A ficares a me observar feito estátua egípcia,
A me acordar quando durmo além do nascer do sol
E da algazarra dos pardais,
Quando bato o ponto atrasado da tua ração,
A miares a me pedir rebarbas
Quando estou a limpar frango, peixes e acéns,
A mijares fora da caixa de areia
Quando a TPM te ataca,
A dormires e a ronronares
Na minha cabeça,
No meu travesseiro,
Teus pelos embaraçados ao meu cabelo
E à minha barba,
É difícil imaginar
- e mais ainda crer -
Que a vida,
O pior dos patrões,
Depois de 15 anos
De total dedicação
E inestimáveis afetos prestados,
Deste-te aviso prévio.
Revoltante crer
Que a Morte está a te comeres por dentro,
A instalar minas tumorais no teu fígado.
Logo em ti,
Que tantas madrugadas passaste em meu colo
A vermos constelações e a ouvirmos estrelas,
A escutares comigo Chico, Raul, Oswaldo, Baleiro, Rô Rô, Cazuza, Legião, Ira, Lobão, Belchior, Taiguara
Com a sobriedade de uma coruja.
Logo em ti,
Que nunca deste
Sequer uma lambida
Na cerveja que sempre te ofereci.

(deixarás órfãos a tua irmã e o Raul)

Viewing all articles
Browse latest Browse all 2844